sábado, fevereiro 20, 2010

Canto a Patativa (Centenário)



A cem anos destes dias
Nas terras do Ceará
Uma criança nascia
Cantando em vez de chorar
Em sua alma trazia
O doce dom de rimar

A rima vinha do dia
Da cor do sol, do luar
Da mãe quando lhe sorria
Da flor que ia brotar
Dos olhos que descobria
A missão de enxergar

"Em cada galho uma rima
Em cada rima uma flor"
E a criança crescia
Cantando verso em louvor
Ao sertão, à virgem Maria
São José e Nosso senhor

Defendia o nordestino
Com o seu dom de cantar
Cantava sempre sorrindo
A sua terra “natá”
Valorizando o “cabôco”
Que não podia estudar

Se não fosse o sertão
e o povo para plantar
Macaxeira, milho, feijão
Como é que ia sustentar
a família e o cidadão
Nascido na “capitá”?

Denunciava em poesia
A tal discriminação
A tremenda estripulia
Do político ladrão
Exigindo todo respeito
Aos pobres deste sertão

Em sua humilde casinha
Viveu com muita alegria
Dinheiro mesmo, nem tinha
mas ricos foram seus dias
Junto de dona Belinha
E sua eterna poesia

Tão simples como um botão
Da mais pequenina flor
Nascida lá no sertão
Do povo trabalhador
Encantam o coração
As rimas do cantador

Também cantava a dor
a agonia e o lamento
do meu sertão sofredor
de gente de sentimento
coração cheio de amor
e vida de sofrimento

Trazia desde criança
O dom de sua missão
Cantando desde a infância
Pro povo desse sertão
Enchendo de esperança
Todo e qualquer coração

O canto mais verdadeiro
Venceu todo pré-conceito
Dos letrados brasileiros
Que não tiveram outro jeito
A não ser reconhecer
Poeta mais-que-perfeito

E a sua poesia então
O mundo já circulou
Das quebradas do sertão
A cidade conquistou
Do mais simples cidadão
Ao mais erudito doutor

Os versos desse poeta
De feijão, mio e paioça
De beleza mais repleta
Das quebradas lá da roça
Traduzido em forma completa
Em países da Europa

As letras em português
Com sotaque do Ceará
Traduzidas pro Francês
Nem consigo imaginar
Italiano talvez,
Consiga até se cantar

Poeta o teu lamento
É comprovação da verdade
Que poesia é talento,
Amor e capacidade
Estudo de pouco tempo
Estudado em universidade

Teu sertão, teu lindo Brasil
E as terras do teu Ceará
te abraçam grande poeta
que continua a cantar
os versos de amor e vida
no canto da patativa
“Cante lá, que eu canto cá”